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1/7/2014, 16:05
Romênia, Condado de Brașov

O inverno viera com determinação naquele ano e naquela noite uma forte nevasca castigava as ruas da cidadela. Da torre mais alta do Castelo de Bran, contemplava os pesados flocos de neve cair sobre os telhados, enquanto me servia de uma bela taça de vinho rose, que era, de longe, o meu preferido. Já passava das 23 horas e o fogo crepitava quase sem forças na lareira do grande salão que se projetava majestoso às minhas costas. Fazia horas desde que estava na mesma posição, apenas parada frente à grande vidraça, embasada pelo tempo, perdida em algumas lembranças incomodas. 

Lá fora a tempestade era intensa e o frio perpetuava pelas antigas paredes de pedra, transformando o grande castelo em uma gélida fortaleza. Suspirei levemente, embasando ainda mais o vidro; retirei-me da posição mórbida em que me encontrava e caminhei até os velhos sofás no meio do salão, sentando confortavelmente no que estava vago.
Reclinei a cabeça em seu encosto fechando os olhos, a taça suspensa em minha mão, meio vazia.

Meu vinho está acabando. ― mencionei balançando a taça no ar.

O que posso fazer minha querida?! Nesse frio sem poder nos alimentar apenas o vinho nos permite ter um pouco de alegria. ― em uma poltrona ao fundo a silhueta de um homem desenhou-se na claridade bruxuleante do ambiente. O vulto se levantou, esvaziou sua taça de vinho e caminhou até a lareira, ajoelhou-se e alimentou a fraca chama com mais algumas madeiras. ― Mas agora me conte... ― depois de se levantar acomodou-se ao meu lado no espaçoso sofá ― O que faz neste castelo? – questionou.

Os motivos que me trazem aqui são tão claros quanto meu passado, querido Uriel, e você sabe tão bem como meu passado se revela a mim neste momento, não é? – abri os olhos vagarosamente, estreitando-os em um olhar desafiador para o cavalheiro.

Não adianta me olhar assim, seu inimigo não sou eu, por mais que pense isso algumas vezes. Continuo afirmando que não sei do seu passado. ― estendeu o braço até alcançar a garrafa de vinho mais próxima, enchendo sua taça exageradamente ― Mas se quer um motivo para continuar: coloque-me como o carrasco e nutra sua raiva, vá em frente ― gesticulou para si mesmo com impaciência e sarcasmo ― Mas eu, Lucinda, não tenho porque esconder nada, agora pode me dizer o que esta fazendo aqui? – o vampiro olhou-me nos olhos fixamente esperando por uma resposta ― De verdade.

― Ora, não seja dramático, como pode não saber? Há séculos venho lhe questionando sobre isto, Uriel e você sempre se esquivando, o que sabe que eu não posso saber?  ― sustentei seu olhar com intensidade ― Aliás, porque é tão importante saber o porquê estou aqui? ― desviei meus olhos dos dele e levantei-me com desdém, girei nos calcanhares enquanto indicava os aposentos a nossa volta ― Se queres saber, estou aqui apenas porque tenho carinho por Bran e por este castelo, mas não planejo ficar por muito mais tempo. ― tomei mais um pouco de vinho ― Teve sorte em me encontrar antes de partir.

Já disse que não sei do seu passado... – pousou sua taça na mesa e passou os dedos entre seus cabelos negros ― Você estava morrendo quando a encontrei, não sabia quem era ou o que fazia, apenas vi em você um reflexo do que fui e não queria deixar que morresse, mas se tornar um imortal e diferente para cada um, alguns perdem as lembranças de sua vida humana, outros só uma parte e isso é relativo, afinal pela lógica não devíamos nem existir. ― tornou a me encarar com um sorriso fugaz  ― Sobre você estar neste castelo foi apenas curiosidade e creio que já é bem grandinha para saber quais as leis dos vampiros...  Não é Lucinda? Não comece com suas provocações. ― revirou os olhos enquanto jogava sua cabeça para trás.

É claro que sei, Uriel, ou achas que ainda tenho a idade que aparento ter? ― esbravejei.

Se eu a transformei você deve obediência a mim, até que eu a liberte disso ou você desafie esta liberdade. ― Uriel se levantou, seu semblante trazia um ar irônico, o qual eu geralmente detestava e sabia que ele o fazia propositalmente ― Planeja me desafiar? Não foi sorte encontrá-la aqui. Eu sabia onde te achar e eu sempre saberei... Por isso não pense que fugirá de mim, Luci, quando eu quiser vou saber onde te achar.

Não seja prepotente, você perde todo seu charme assim ― caminhei até onde ele estava e sentei-me ao seu lado ― Você sabe que lhe desafio diariamente, não é? ― sorri debochadamente acariciando seu rosto com uma das minhas gélidas mãos. ― Ora, não precisa se exaltar... Apesar de tudo, ainda estou em dívida com você ― endireitei-me no sofá ― Não posso partir ainda.

Irônico como você demonstra sua dívida que tem para comigo, mas se fosse diferente não teria nenhuma graça, não é mesmo? ― Ele sorriu despreocupado e observando meus movimentos levou a taça aos lábios.

Certamente não haveria. ― minha voz ecoou solene pelo salão morrendo em um silêncio fúnebre entre nós. 

Por dentro uma luta era travada em meus pensamentos: um lado de mim gostaria apenas de esquecer o que já não era lembrado e seguir em frente, mas havia outra parte que insistia em buscar respostas. "Mas onde?" Era a pergunta que me inquietava. Ainda trazia comigo as lembranças de uma humanidade a muito tempo perdida, mas aquela lacuna de como foi perdida me assombrava por séculos.

Um grave badalar indicava que já era meia noite e que um novo dia se preparava para começar. Virei-me para olhar a janela: a nevasca agora se resumia em apenas alguns finos flocos de neve. Olhei mais um vez para Uriel e notei uma sombra de preocupação em sua face, mas preferi não questionar apesar de sentir que algo grande estava por vir.

Creio que é chegada a hora de deixar este Condado. ― terminei minha bebida e coloquei-me de pé ajeitando minha roupa. ― Te convidaria a me acompanhar mas acho que preciso de umas férias de você. ― peguei meu casaco sobre um divã surrado ao lado da lareira e o vesti rapidamente.

Uriel não disse uma só palavra e apenas deixou-se ficar onde estava, apreciando seu vinho. Era fato de que dele não tiraria mais do que as mesmas palavras que ouvia a décadas e a mesma história, então o que me restava era deixar o passado no passado ou buscá-lo num futuro próximo... e foi o que decidi. Talvez um pouco de "paz" me ajudasse a organizar minhas memórias póstumas.




Continua...
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25/7/2014, 17:47
Arendal, Condado de Aust-Agder, Noruega
Seis meses depois


A brisa costeira soprava gélida, fazendo meus cabelos dançarem ao seu toque. Era minha segunda noite em Arendal e de alguma maneira aquela cidade me encantava.

O relógio de pulso indicava vinte e uma horas e nada poderia ser mais animador do que uma noite prestes a começar, essa era a sina eterna de minha espécie: morremos pelo dia e somos acalentados pelo anoitecer, tudo o que nos restou deste mundo humano foram as trevas e nada a mais. Mas não pense que isso seja uma lamentação, o entardecer pode revelar muitas surpresas para aqueles que sabem o que procuram.

Mas naquele momento meus pensamentos estavam longe de Arendal, embora meu corpo ali estivesse. O deslumbre da última imagem de Uriel ainda permanecia em minha mente, sua expressão me intrigara e eu realmente gostaria de saber o que se passava em sua cabeça. Talvez, no fundo, soubesse do que poderia se tratar. O silêncio por muitas vezes camuflara meus olhos atentos a cada mudança que observava por onde passava, não tinha como negar que algo estava se agitando, mas preferi me calar a respeito, nem mesmo chegara a comentar isso com Ivanov.

Respirei fundo e fechei os olhos demoradamente, enquanto espantava para longe meus questionamentos, viajara até a Noruega justamente para se afastar disso e ficar relembrando não era parte do plano.

Continuei minha caminhada por uma avenida beira mar, o som das ondas que se quebravam soavam como uma sinfonia sob a lua crescente, as águas geladas refletiam o brilho cintilante das estrelas. Na avenida algumas pessoas transitavam despreocupadas e eu, como de costume, me manti a mais discreta possível enquanto rumava para meu incerto destino.

Ao longe a sombra de um mirante tornava-se cada vez mais nítida, a arquitetura se projetava alguns metros acima da areia fina da praia, proporcionando uma vista paradisíaca daquela imensidão azul. Me aproximei casualmente, parando para admirar sua vasta visão, apoiei meus braços em seu encosto e debrucei-me sobre eles, o quadril levemente inclinado. O que faria agora? A séculos vinha vagando pelo mundo atrás de algo que me ajudasse a recordar do que houvera naquela noite, mas minhas tentativas se tornaram frustrações, por mais que me esforçasse eu, simplesmente, não conseguia me lembrar, era como se uma barreira de aço fosse posta em minha cabeça limitando o acesso ao que buscava e isso me atordoava de tal maneira que... "Esquecer". Era minha melhor opção no momento: esquecer de vez o que já não era lembrado por mim.

A poucos metros de onde estava, um bar acendera suas luzes e os primeiros fregueses começavam a surgir, era um bar noturno ao estilo marinheiro, sua arquitetura assemelhava-se a um grande navio, daqueles usados em antigas navegações. Os risos eufóricos se misturavam ao bater se copos sobre a mesa e me senti curiosa para descobrir que tipos de pessoas frequentavam aquele lugar. Já fazia algum tempo desde que me alimentara pela ultima vez e isso era motivo suficiente para me aventurar com alguns jovens embriagados.

▪▪▪†▪▪▪

Já se passavam um pouco mais de dez e meia e o interior do bar estava cheio de clientes, a visão geral fez surgir um brilho malicioso em meus olhos, aquilo seria uma diversão e tanto. Deslizei por entre as mesas e garçons sob a luz bruxuleante do ambiente, sentando-me ao fundo do grande salão em uma mesa confortavelmente nas sombras. Observei cada humano que vagueava por ali, mas meus olhos insistiam em recair sobre um grupo de rapazes encostados no extenso balcão, em especial àquele que me fitava descaradamente. Sorri esbanjando charme, convidando-o a se aproximar, não costumava usar qualquer tipo de hipnose quando se tratava de atrair minha presa, afinal meu físico sempre fora um aliado fiel e não me recordo de ter sido rejeitada em alguma ocasião. O rapaz se aproximou lentamente e um sorriso se desenhou aos poucos em seus lábios rosados, um copo de bebida em mãos.

 Procurando por uma companhia? - sentou-se ao meu lado no espaçoso banco estofado. Seus olhos verdes sustentavam meu olhar.  "Talvez", respondi com descaso, colocando um dos braços sobre a mesa e apoiando meu rosto sobre a mão flexionada, "Gostaria de se juntar a mim? Garanto que irá se divertir."
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27/7/2014, 23:32
Acenei para o garçom que passava próximo a mesa e pedi que trouxesse um copo de vodka. O rapaz parecia não tirar os olhos de mim, um sorriso bobo no rosto. "Ah, doce criança, tens sorte por me encontrar esta noite..." pensei comigo mesma enquanto correspondia a seus olhares. Não pretendia matá-lo naquela noite, era um bom rapaz e não merecia terminar assim. Não era de meu feitio ser gentil, mas matar apenas para proporcionar a morte não me agradava. Já conhecera muitos vampiros com pensamentos errôneos que achavam que carnificina era sinônimo de poder, pois muito se enganaram e por seus atos inconsequentes não foram muito longe em suas vidas pós-morte. A supremacia vampírica tendia a ser rígida quanto aos escândalos causados entre os humanos, sermos revelados por crianças sedentas por diversão não era uma opção.
O garçom retornara com a bebida em sua bandeja e com elegância pousou o copo a minha frente, sorri em agradecimento e depois voltei a atenção para minha companhia. "Não me dirá seu nome?", questionei puxando o copo para mim, deixando escapar um leve sotaque.
 Me chamo Bernard... - bebericou sua bebida e tornou a falar, agora mais perto de mim  O seu seria...?
 Emma. - informei sob seu olhar curioso.
 Prazer Emma, é um lindo nome. - fez uma pausa e prosseguiu  Desculpe, mas... Não pude deixar de reparar em seu sotaque, passando férias aqui ou algo assim?
 Você me pegou - disse num riso divertido  Nada melhor do que férias num lugar frio, você sabe... - dei-lhe uma piscadela charmosa  Com uma boa companhia.
Deslizei para mais perto do rapaz, seu corpo quente era reconfortante até mesmo para mim, ele entre abriu os lábios, mas as palavras não saíram. Meus olhos prenderam os dele como dois imãs enquanto aproximei meus lábios dos dele, ele ofegou quando quase os toquei. "Haja naturalmente, prometo não doer." Sussurrei a poucos centímetros de sua boca, afastando-me em seguida. A hipnose fora feita e minha vitima estava pronta para o prato principal.
 Beba. - indiquei o copo de vodka que pedira a minutos atrás e o observei esvaziá-lo enquanto remexia um dos bolsos.
Com o copo já vazio puxei um de seus braços para mim, erguendo a manga da camisa e deixando seu antebraço exposto. A pele clara proporcionava uma ótima visão das finas veias roxas que se entrelaçavam entre elas. Em minha mão segurava uma pequena agulha borboleta, ligada a uma curta extensão. Espetei o artefato rapidamente em seu braço e pedi para que fechasse e abrisse o pulso regularmente apoiando-o em seu colo.
O liquido escarlate fluiu para dentro do copo, meus olhos admiravam sua cremosidade única. O aroma invadiu minhas narinas e cada parte de meu corpo respondeu ao estímulo inevitável daquele elixir revitalizante.
 Porque não me conta mais sobre você, Bernard, enquanto terminamos isso?
Havia deixado a Romênia com o propósito de afastar-me de meu “criador”, não lhe disse para onde ia e nem quando voltava e apenas parti sem olhar para trás. Ele me negara o que sabia e a ideia de enganar-me me corroía por dentro, eu que fora sua maior aliada dentre séculos merecia mais do que isso, o pensamento de que tudo fora uma mentira por anos sustentada fazia uma revolta se agitar em meu interior, eu precisava partir. Faria o que fosse preciso para apagar meu rastro, única e simplesmente para que ele não me encontrasse por mero capricho.
O copo quase transbordara quando interrompi a drenagem e o coloquei sobre a mesa, guardando a pequena agulha novamente no bolso. O rapaz, Bernard, continuava a tagarelar sobre sua vida, assim como pedira. Técnicas menos invasivas me atraíam e eu as usava em certas ocasiões para conseguir o tão desejado alimento, afinal, nem toda a refeição tinha de ser a reprise de um pesadelo, pelo contrário, podia ser muito divertida. Uma vítima sem marcas não era uma vítima e julgando por isso nada acontecera ali. Levei o copo aos lábios e deixei que o liquido viscoso e quente escorresse por minha boca despertando cada sentido do meu corpo, arrebatando meus instintos mais vorazes.
 Bernard... – pousei o copo sobre a mesa e acariciei seu rosto, seu corpo se arrepiou ao meu toque gélido  Agradeço pela companhia, mas preciso partir. – levantei-me ajeitando meu longo casaco  Lembre-se: eu nunca estive aqui. Volte para seus amigos e cuide-se criança. – pronunciei cada palavra impondo-lhe à hipnose e rumei para a saída.

Antes de atravessar o lustroso portal de entrada senti algo em meu radar, uma presença não esperada. Estreitei os olhos para além do mirante, onde eu estivera horas antes, e observei uma silhueta na luz tremeluzente do poste. A figura recaiu os olhos sobre mim, eu podia sentir que ela me fitava, mas sua aura era fraca. Certifiquei-me de que não havia outros a minha volta e caminhei a passos rápidos até onde a figura estava. Eu o reconhecera, mas não conseguia acreditar que ele me encontrara.
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4/8/2014, 16:40
Parado sobre a plataforma do mirante ele me olhava com fissura, as mãos expostas buscaram aconchego no bolso do casaco e um sorriso surgiu em seu rosto ao me aproximar cada vez mais. Desacelerei os passos conforme a distancia entre nós diminuía, as ondas quebravam com sutileza a alguns metros além da areia branca da praia e em poucos segundos estávamos frente a frente.

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 Miss Price! – a voz aveludada da figura soou numa falsa surpresa — Que coincidência encontrá-la por aqui numa noite tão bela. – seus lábios se afastaram revelando um sorriso charmoso.

— O que faz aqui, Don? Creio que não esteja a negócios. – meu tom era sério. Observei o rapaz a minha frente, seus olhos amendoados sustentavam os meus transmitindo um calor único que só nele sentia. Tirei uma das mãos do bolso e arrumei uma mecha de cabelo atrás da orelha, o vento começara a soprar com mais intensidade agitando a areia sob nossos pés.

Ele jogou a cabeça para trás numa rápida risada, tornando a me olhar em seguida.

— Sempre desconfiada, não é Luci? – lançou-me um sorriso furtivo e franziu a testa numa expressão carinhosa — Confesso que não vim a negócios, vim para lhe encontrar, pois não sabia a quem recorrer. – o sorriso apagou-se de seu rosto e ele encurtou ainda mais a distancia entre nós — Podemos conversar?

Elevei meus olhos para encará-lo melhor, Donavan possuía uma alta estatura e seu físico beirava os 28 anos embora já alcançasse seus quase 400. Tinha um carinho genuíno por ele, já nos conhecíamos de longa data e tínhamos algumas memórias compartilhadas, desta e de outra vida. Sentia confiança em sua personalidade e isso me dava segurança para falar de assuntos que nunca falara com ninguém durante os séculos.

— Não aqui. – meus olhos vasculharam o ambiente ao redor enquanto continuava a dirigir-lhe a palavra — Vamos. – fiz-lhe um sinal de cabeça para que me seguisse e rumamos de volta ao hotel onde me hospedara.

▪▪▪†▪▪▪

Girei a chave na fechadura enferrujada e a porta se abriu num ranger, a nossa frente um pequeno espaço se projetou deixando a vista uma pequena sala com um sofá antigo no meio, “Sente-se” disse indicando o sofá enquanto pendurava o casaco no cabideiro atrás da porta. Ele sentou-se sem cerimônia e esperou até que eu me sentasse ao seu lado, acendi uma luminária ao meu lado e a luz bruxuleante se dissipou pelo lugar; Era o suficiente para que pudéssemos nos ver e conversar sem chamar atenção. Arqueei as sobrancelhas intimando-o a falar.

— Eu achei que era coisa da minha cabeça... – começou ele depois de um profundo suspiro — Mas agora acho que não é. – sua expressão era vazia enquanto fitava a mesinha de centro — Lucinda... esteve viajando nos últimos tempos?

— Seja direto e diga o que lhe incomoda, Donavan. – as palavras saíram serenas quando apoiei as costas no sofá admirando a parede a frente.

As coisas estão mudando Lucinda. – seus olhos agora estavam em mim, ele colocou um dos braços sobre o encosto do sofá e virou-se — Rumores andam se espalhando por toda a Grã de que algo grande virá. A princípio achei que fosse bobagem, mas resolvi me manter alerta. – ele fez uma pausa e seus olhos procuraram os meus. Virei o rosto para encará-lo. — Algo está se agitando entre os de nossa espécie e até os lupinos parecem sentir.

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Meu semblante se fechara como um dia de sol encoberto por uma tempestade as palavras que acabara de ouvir, de alguma maneira, me fizeram pensar em alguns flashs passados. Entendera muito bem a informação que ele me passara e sabia que não viria a mim por algum motivo banal.

 E por que me procurou?

— Porque foi a primeira em que pensei.

— Disse a mais alguém?

Não.

— Ótimo. – passei as mãos no cabelo, jogando-os para trás — E como me achou? – meu olhar recaiu sobre ele com leveza.

— Na verdade.. – ele se ajeitou no sofá — Foi sorte. Sabia que estava na Romênia, mas quando fui procurá-la você já havia partido, me lembro que um dia comentou sobre este condado e resolvi arriscar.

— Tenho que parar de lhe contar meus segredos. – um sorriso apareceu em meus lábios, o que ele dissera era verdade, eu havia mesmo lhe comentado sobre aquele lugar, mas isto fora a muitos anos atrás. — Gostaria de ter permanecido na Romênia, mas os ventos me trouxeram até aqui e logo me levarão a outro lugar, o qual não lhe contarei desta vez.

— Ainda buscando algo que ajude em suas lembranças? – sua expressão transmitia uma certa preocupação enquanto me fitava sob a luz amarela da luminária. Balancei a cabeça negativamente contraindo levemente os lábios em sinal de que aquele assunto já me bastava.

— Sobre o que me contou – mudei o assunto repentinamente — Não viajei muito nos últimos anos e creio não ter notado nada fora dos padrões. Mas me atentarei a isso, acredito em tuas palavras. – levantei-me vagarosamente caminhando ao redor da mesinha de centro, tomei nas mãos um enfeite que estava sobre ela e enquanto o passava de mão a mão a ultima imagem de Uriel acendeu-se em minha cabeça: sua preocupação teria haver com o que acabara de ouvir?


Última edição por Mury em 4/8/2014, 20:07, editado 1 vez(es)
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4/8/2014, 20:01
— No que está pensando? – a voz sedosa tirou-me de meu devaneio, trazendo-me de volta ao presente.

— Nada que valha a pena mencionar. – coloquei o enfeito em seu devido lugar e caminhei até a janela embaçada afastando um pouco a cortina no intuito de visualizar a rua: tudo parecia calmo. — Como vai o bar? – iniciei outro assunto. Dovanan levantou-se do sofá e caminhou até onde eu estava, parando atrás de mim, sua mão tocou a minha que segurava a cortina e ele a afastou um pouco mais para conseguir uma boa visão.

— O bar vai bem, tenho conhecido muitas pessoas novas, sabe. – “Sei.”, respondi sem prolongar o assunto. A lua crescente desenhava-se num sorriso em meio a céu escuro ladeado por estrelas que brilhavam feito diamantes recém lapidados. O rapaz retirou a mão sobre a minha e eu fechei a cortina, dando-lhe as costas. Ao virar-me de volta ao interior da sala vi que ele me olhava com um ar de seriedade, seus olhos amendoados eram quentes e desviei meu olhar para o relógio de pulso, eram quase 3h da manhã.

Porque insiste em fugir dele? – a voz sedosa invadiu a sala.

— Não fujo de ninguém. – informei secamente sem olhá-lo.

— Sabe que fugir não adianta, – ele continuou ignorando minhas palavras — Por que não o enfrenta e exige sua liberdade?

— Vă rog, Don... – agora eu o olhava com o cenho franzido — Não vou discutir isso de novo. – pousei uma das mãos na cintura jogando o peso de meu corpo sobre uma das pernas.

Ele se levantou com urgência, como se eu tivesse lhe ofendido profundamente, seu semblante calmo, agora, parecia anuviado em desgosto. Acompanhava-o a cada movimento esperando por sua próxima investida no assunto, conhecia o suficiente para saber que não se daria por vencido tão cedo, já passara por isso antes, mas em nenhuma das discussões Donavan parecia tão irritado.

Diga-me Lucinda, porque não o faz? Não é justo que seja prisioneira por toda a eternidade. – ele se alterava conforme as palavras saiam.

 Não se trata de justiça. – mantive minha voz controlada com certa dificuldade, aquele assunto me enraivecia — Achas que também não anseio pela minha liberdade? Sejamos realistas Donavan, você não sabe o fardo da ligação com seu “criador”, não tem o direito de me exigir nada.

— Não estou lhe exigindo nada, Price. – ele parecia tentar se acalmar, sabia que estava indo longe demais, mas mesmo assim continuou — Você não o deve nada, você sabe que não. Ele a transformou de livre e espontânea vontade. É ele quem não tem direito de lhe exigir essa devoção, você não vê?

— Îmi pare rău, Don, eu não posso fazer isso.

As palavras o atravessaram como flechas e também pesaram em meu corpo, ele era um vampiro livre desde seu nascimento nesta vida, jamais compreenderia a ligação inevitável com seu criador e as conseqüências que ela resultava, quando elas surgiam você teria que aceitá-las mesmo que isso lhe ferisse ou custasse sua existência, não era uma escolha. Poucos dos que desafiaram seus criadores sobreviveram para desfrutar de sua liberdade, se é que conseguiriam desfrutar de algo se sobrevivessem a tal afronta. As palavras dele ecoavam em minha cabeça, de certa forma ele tinha razão, mas não era tão simples assim, minha força nunca superaria a de Uriel.

Donavan caminhou pelo pequeno espaço agitado, com as mãos no bolso tendia a olhar para qualquer lugar no ambiente, menos para mim. Mantive-me em silêncio, também evitando olhá-lo para evitar que outras palavras ásperas fossem pronunciadas. Seus passos se dirigiram a mim e pude sentir suas mãos em meus braços num aperto firme, porém gentil, meus olhos encararam seu peito definido sob a camisa colada. “Fuja comigo” – sua voz ressoou num sussurro aos meus ouvidos me fazendo encará-lo, uma sombra de confusão passou por meu rosto.

 O que disse? – seu corpo colara ao meu, suas mãos agora deslizavam até minhas costas, coloquei minhas mãos sobre seu peito na intenção de afastar-me dele, mas ele me puxou para mais perto. Seus olhos prenderam os meus enquanto ele tornou a pronunciar cada palavras com mansidão.

 Liberte-se dele e fuja comigo. – aproximou seu rosto tocando seu nariz no meu — Prometo que ele nunca te encontrará. – seus lábios frios tocaram os meus pressionando-os com desejo. Impulsionei minhas mãos contra seu corpo, livrando-me de seus braços. Meus passos eram vacilantes quando me afastei o suficiente para olhá-lo por inteiro, ainda estava desconcertada pelo beijo. “O que foi isso?” – foi o que me ocorreu em pensamentos, mas preferi não comentar. Donavan continuava parado no mesmo lugar, olhando-me como se eu não houvesse me comportado como o esperado.

— Não posso Donavan, entenda que não posso.


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