Chuva congelante..

26/6/2014, 21:16

Como era doloroso, não lembrar de como acabou se tornando o que mais se odeia,

esse era um pensamento recorrente enquanto estava deitada na cidade que uma

vez já chamei de lar.

Tudo era tão diferente, da minha época pouco restará, apenas algumas poucas

ruínas se mantinham de pé, já as pessoas, a cultura e até a língua não era a mesma.

Sempre que parava a noite a melancolia já me consumia, a vontade de procurar

respostas já não existia em mim, a conformidade já me era parceira.

Nada era o que pensava naquela triste e sombria noite de tempestade, parada

estática na frente da janela, meus olhos fitavam o infinito, em minha pós vida nada

fazia sentido, para uma existência imortal, tudo parecia tão leviano, tão passageiro..

Meses se passam e com eles cresce a certeza que minha existência não deveria ser

perpetuada .

"Não há razão para essa dor continuar, estou com saudades de sentir o sol que tantas

vezes me aquecera nos pesados invernos de minha infância"

Imersa nesse sentimento, planejei cada detalhe de minha libertação, algum ânimo me

correra o corpo com esse objetivo, isso não me assustava, pelo contrário, me sentia

estranhamente feliz, a felicidade que finalmente me libertaria de toda a melancolia que

me preenchia.

Faltando poucos dias para o equinócio de inverno, a data que havia escolhido, uma carta

é entregue em meu endereço, uma carta que mudou toda a razão de minha existência.

Carta:

3/7/2014, 13:56

As vezes me pergunto como simples palavras
podem mudar toda um vida, da melancolia e
desesperança, à alegria e excitação.

A vida é coberta de surpresas e eu com toda
a minha existência havia me esquecido disso,
de fato minha pós-vida se tornará interessante
uma vez mais.

Aquela carta com poucas palavras reacenderá em
mim a chama que me motivará até ali, a descoberta
de quem havia me transformado e quem terminará
aquela guerra que nos era certa.

Carta:

Aquele sentimento, aquela emoção, essa carta
era minha salvação e dela me aproveitei.

Alguns dias se passaram desde que ela chegou a
mim, planos e conjecturas não me faltavam.

Quem será que havia me escrito essa carta?
Como me conhecia?

Será que realmente a sombra que a carta se referia
era quem eu estive procurando por todo esse tempo?

Não me importava realmente saber a resposta dessas
perguntas agora, tudo que me importava era que havia
algo para ser feito, pistas para serem colhidas, a
curiosidade se aguçará uma vez mais, e não deixaria
de perder essa oportunidade.

Me retirei daquele quarto, retirei o ar estagnado que
estava em meus pulmões e fui visitar aquele velho e
nostálgico cemitério antes de minha partida.

Chuva congelante..

Chuva congelante..

Chuva Congelante, Parte II..